FHC: desistam do povão e dos movimentos sociais
Líderes da oposição, entre eles Aécio Neves (PSDB-MG), discordaram
ontem do teor do artigo em que o ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso propõe que desistam do "povão" para investir na nova classe
média. Já o ex-governador José Serra fez vários elogios ao texto e
disse que este não é o "ponto essencial" do texto.
Em "O papel da oposição", escrito para a revista "Interesse
Nacional", FHC diz que "enquanto o PSDB e seus aliados persistirem
em disputar com o PT influência sobre os "movimentos sociais" ou
o "povão", isto é, sobre as massas carentes e pouco informadas,
falarão sozinhos".
Aécio elogiou o texto, mas se disse "mais otimista" que FHC
quanto à chance de conquista dos eleitores de baixa renda.
Serra disse à Folha que compartilha em "gênero, número e grau"
com a "essência" do artigo: "O problema do PSDB e da oposição é
de rumo, de clareza, de coerência. Como um todo, não se sabe
bem o que o partido defende, nem de que lado está".
O ex-governador de São Paulo também concorda com o ex-presidente
"quando ele adverte para o fato de que as oposições não conseguirão
disputar com o PT o aparelhamento do Estado, porque a nossa vocação
é outra".
Já líderes da oposição no Congresso discordaram do texto de forma
mais aberta.
"Um partido tem de ter sensibilidade social. E ela deve ser voltada
justamente às camadas mais pobres", afirmou o líder do PSDB na
Câmara, Alvaro Dias (PR).
O líder do DEM na Câmara, ACM Neto (BA), disse que a oposição tem
de "ampliar sua capacidade de se comunicar com todos os segmentos
sociais" e "sair do Congresso e ganhar as ruas."
A avaliação dos tucanos é que a tese de FHC do foco na classe
média contraria a tentativa de Aécio e do governador Geraldo Alckmin,
de consolidar uma marca social e se aproximar dos sindicatos.
Aliados de Alckmin evitaram críticas ao artigo. Avaliaram que, de fato,
o partido não pode descuidar da classe média, mas também não
pode deixar de investir em áreas onde não tem força.
O presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), tentou minimizar a polêmica
e disse que FHC foi mal interpretado, pois apenas "constatou que é
mais fácil para a oposição se comunicar com a classe média
do que com os beneficiários do Bolsa Família".
Em entrevista à rádio CBN, FHC reafirmou o conteúdo do artigo:
"Em vez de permanecer num corpo a corpo permanente com o PT num
terreno em que eles fincaram estacas, tem muitos setores da
sociedade que não estão representados e que têm aspirações", afirmou.
Em Maringá (PR), FHC voltou a dizer que "o PSDB precisa se aproximar
de camadas sociais que não se interessam pela política". FHC confirmou
a pecha dos tucanos, manter distância dos movimentos sociais, dos
sindicatos, dos beneficiados pelo Bolsa-Família, pelas classes
sociais menos favorecidas.
Com a Folha de S.Paulo