segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Marta, uma nova Marina?



"Ou o PT muda ou acaba o PT", bem essa frase vinda de mim ou de outro membro ligado as tendências "radicais" ou a esquerda do petismo até seria "digerível" ou aceitado, mas vindo de Marta (Suplicy) a coisa "muda" de figura.

Já não é novidade que o PT é um dos poucos (ou único) partido da/na ordem institucional atual que mantém vivo a ideia de partido: organizado, com militância e intensa vida partidária. Nossas diferenças internas e divergências de posições são conhecidas, as vezes não muito compreendidas pela população em geral é comum ver que não somos militantes abobados ou "cabos eleitorais" sem cérebro que passam a mão na cabeça das direções ou dirigentes. O "doa a quem doer" vale mais para nós do que para a maioria do partido.

Também não é nova as posturas individuais dos nossos dirigentes. Essa construção se fortalece durante a gestão do ex. presidente do PT José Dirceu com a implantação das "eleições direitas" para as direções do partido, com candidatos (as) a presidência do partido (em cada nível) eleitos (as) a parte - reforçando o personalismo , tática conhecida do stalinismo (1) e praticada já faz um tempo pelas forças majoritárias.

Ou seja, quem criou o método que aguente as consequências. Marta sai atirando e o problema é para que lado? Com certeza não é por um PT mais a esquerda, socialista ou que busque transformar a sociedade. Então o que reivindica Marta?

A julgar pela sua origem, com certeza para Marta um partido mais liberal, na defesa de uma ética burguesa ou socialismo light (ou cor de rosa) se preferir. Um partido "Hobin Hood" que "governa com os ricos e trabalha para os pobres", velha conciliação de classes ou a via dos abobados: "vamos salvar o planeta".

Ela atira em Juca Ferreira (atual ministro da Cultura do segundo mandato da pres. Dilma), levou "provas de gastos superfaturados" dessa gestão direto a CGU (Controladoria Geral da União) - que sucedeu Gilberto Gil durante o mandato do ex pres. Lula, ela critica, esbraveja e se defende da fama de "arrogante", e atribui isso ao PT ou a petistas.

Contudo vamos aos fatos, primeiro ela (Marta) pediu para sair do governo assim que terminou o segundo turno, antes disso foi as ruas, pediu voto (para Dilma) e se expôs em diversos eventos públicos de campanha, ou seja, ela (Marta) também estava em campanha? Quem sabe para um novo ministério? Segundo, é senadora pelo PT e acreditamos a tempos não deve muitas explicações da sua atuação aos dirigentes paulistas, isto porque Marta é Marta, como alguns se sente "dona do mandato" e uma "entidade acima do partido". Terceiro, acusar Juca Ferreira é em parte atacar o ex pres. Lula, será essa a melhor "manobra", visto que Juca Ferreira não é um qualquer é militante não só do meio cultural, mas um quadro e provar irregularidades contra alguém que até hoje cumpriu sua função na política pública cultural não é tarefa fácil. 

Quarto, quem conhece o perfil sabe que Marta é Marta define sua estratégia politica pautada pelas suas relações de classe e interesses particulares o que pode provocar uma grande indefinição bem as vésperas do ano eleitoral de 2016. Uns especulam que seu olhar é sobre a prefeitura, outros que 2018 pode ser o caminho, o que esperar de alguém que prestes a garantir reeleição à prefeitura de São Paulo (2004) e com governo bem avaliado fizesse um movimento que a derrotou. Lembremos, afastou-se da imagem do ex pres. Lula, impôs um método de campanha eleitoral regada a vultuosos recursos financeiros e sem militância, contratando os famosos "moranguinhos", e claro uma desvinculação da sigla que a fez ser a dirigente política que é, o PT (aquele que agora ela exige resgatar).

 E como ela mesmo diz para abrir a segunda semana de janeiro de 2015 (fonte Fsp 12.01.2015): ""Marta se diz decepcionada com o próprio partido e que se sente "há muito tempo alijada e cerceada". "Cada vez que abro um jornal fico estarrecida (...) É esse o partido que ajudei a criar e fundar?". Apesar disso, a senadora diz que ainda é uma "decisão duríssima" a de abandonar o PT."Não tomei a decisão nem de sair, nem para qual partido, mas tenho portas abertas e convites de praticamente todos, exceto PSDB e DEM.""

Como individualmente cada um faz o que quer caberá a Marta e seus "orientadores" políticos dizerem qual é o rumo: "Mudar o PT, retomar o petismo ou construir uma saída oportunista tipo "Marina Silva"", com um detalhe aos militantes socialistas do PT, não será para um projeto popular e/ou coletivo. 

E o que representa a posição de Marta? 

Representa o que já estávamos vivenciando  um tempo no PT, que é diante da desconfiguração das nossas lutas, nossas reivindicações e nosso projeto de sociedade surgem a indisciplina interna - onde cada um faz o que quer esperando novas portas a se abrirem, a ausência de objetivo político coletivo e o sentimento de afastamento da base e da sua direção. 

O governo Dilma escolheu agir sob um velho método, da barganha em troca de apoio, contudo adotando seus critérios de "escolha" a um preço que todos e todas temos que esperar. Com o risco de termos um governo com olhos para governar de um lado e olhos na atuação dos ministros do outro para fazer com que alguns não caiam na tentação de bolar esquemas incríveis de uso da máquina e dos recursos públicos para fins privados.

O efeito Marta não pode ser visto apenas sobre o olhar condenatório do petismo e sim sob a necessária discussão de que partido temos e que partido queremos para conduzir um projeto coletivo de sociedade e não apenas de governabilidade.

Dizem a todo momento que o PT faz o errado. Assim seguimos condenados por uma mídia medíocre que corre atrás de lucros e vantagens, acusados pelas práticas individuais e particulares de alguns, bem como e a toda hora taxados como figuras ruins. Desculpem, mas esse julgamento não condiz ao que promovemos neste último período no Brasil, mesmo sendo anticapitalista, aquele capitalismo que misturava neoliberalismo com colonialismo e militarismo combinados passando por Sarney, Collor, Itamar e FHC não conduziam o país ao interesse comum de ninguém.

Ao PT devemos decidir se daqui para frente teremos uma legião de Martas construindo seu voo solo - individual, personalista e particular,  ou criar espaços comuns, coletivos e solidários para que o PT seja o PT.

P.S. 1) O exemplo dos trabalhadores metalúrgicos do ABC pode e esta sendo um bom exemplo de como retomar a consciência de classe ou o significado da luta contra esse sistema. Uma greve construída na SOLIDARIEDADE com os demitidos e claro um pouco de estomago pois um dia o empregado de hoje poderá ser o de amanhã. Evidente que os tempos são outros, mas o métodos do capital são os mesmos, quando lucram não partilham um pedaço do que seria justo dentro das regras liberais burguesas, quando alegam crise "demita se". Um desses analistas econômicos que  "papai e mamãe indicaram" para estas consultorias medíocres do capital afirmou "ser necessário", como se não estivesse falando de gente, seres humanos. Que a luta dos metalúrgicos do ABC faça (pelo menos) ressurgir a compreensão do que é solidariedade de classe.