sábado, 25 de novembro de 2017

Quando o buraco é mais embaixo. Nem velha, nem nova política. Apenas a política necessária.



Quando o buraco é mais embaixo. Nem velha, nem nova política. Apenas a política necessária.

Dividindo o tempo entre um trampo e outro, são muitas impressões e expressões que tenho de como nós, militantes da esquerda socialista, perdemos a medida da estratégia. 

Convivo com pessoas que não vivem o meu mundo. E é óbvio porque, já que meu mundo é restrito pelas escolhas que fiz e pelo que acredito (individual e coletivo) ou seja, quando vou a uma festa de aniversário ou a um ato público, para mim ambos fazem parte da minha realidade.

Contudo, a primeira é certa para maioria (majoritária) da sociedade e a segunda menos e tratada, por esta mesma maioria, como algo do tipo “quando der” ou da máxima “não vai adiantar nada”. E assim segue a vida para os que vivem nesse cotidiano: dividindo o tempo entre ano-novo, carnaval, Páscoa, dia das mães, dos pais, feriados sem importância histórica  (para maioria) e o natal. 

E aí reside a diferença de escolhas e compreensão de nação e de sociedade da qual faço parte. No meu calendário estão: o dia de luta das mulheres, as várias expressões de manifestação como o “Grito dos Excluídos” no 07 de setembro e as reflexões do 20 de novembro, entre tantas para pensar, refletir, defender e lutar por uma outra sociedade.

Outro dia compartilhei a ideia  (meio óbvia) onde imagino, que haja na formação das crianças e adolescentes dos outros países o estudo dos seus intelectuais tradicionais ou aqueles que marcaram a sua história, tornando-se referência em estudos e pesquisas consagradas e sendo lidos e apresentados na formação escolar básica. Exemplo, o desenvolvimentista Franklin Roosevelt que para história básica estadunidense é apresentado enquanto presidente, bem como seu modelo de governo, podendo-se debater suas convergências e divergências, e mesmo que a indiferença opere, vários destes jovens terão uma vaga e certa ideia de quem foi e o que defendeu.

E no Brasil? Apenas quem se salvou da censura burguesa foram os literários. Mas, os que buscaram entender o Brasil, onde estão na formação básica? Sergio Buarque de Holanda, Florestan, Josué de Castro, Celso Furtado, entre outros, que eu mesmo esqueci e que poderiam (e deveriam) sair do aprisionamento da excelência do ensino superior acadêmico e fazer parte do ensino básico.

Com suas convergências ou divergências, proporcionar às nossas crianças e adolescentes o conhecimento e assim permitir que cada um tire suas conclusões e promova o debate.

Essa é uma das reflexões que tem me incomodado, depois de tanto tempo assumindo tarefas coletivas, dirigentes e outras que me confinavam em reuniões que, geralmente, deliberavam a data da próxima.

Hoje, acredito ainda mais na iniciativa de um coletivo de compas que, por exemplo, chegaram a disputar e vencer as eleições do Sindicato dos Servidores Públicos de Guarulhos, e o seu presidente, a época, decidiu manter seu vínculo no local de trabalho, sem liberação, para exercer suas funções sindicais. Mantendo vínculo junto a realidade dos seus colegas de trabalho.

Na época achei estranho, já que a regra geral, era comum ver dirigentes sindicais que nunca mais haviam voltado aos seus locais de trabalho. Perpetuando-se nas direções. Alguns sobre o argumento de que "não havia como formar novos quadros". Bem, pesando a estrutura e a liberação não deveria ser problema, mas isso é outro debate.

Ou quando pertenci ao Conselho Regional de Serviço Social do estado de São Paulo e pela lei federal não é permitido remuneração e (em alguns  casos) nem liberação do local de trabalho. Porém, o pertencimento direto ao local de trabalho também mantêm vivo o olhar e as relações no cotidiano da classe.

Com o tempo e vivendo essa conjuntura de transição da esquerda brasileira (pelo menos eu acho isso) percebo que a iniciativa do companheiro no sindicato e essa vivência no Conselho me deram a síntese do que precisamos repensar: quais vínculos queremos estabelecer com a classe trabalhadora? 

Quando surgem as primeiras liberações, entre as organizações de esquerda, o profissionalismo militante era uma sentença de morte, lembrando que haviam os riscos da dedicação. Onde a regra para maioria destes militantes profissionalizado era desempenhar a tarefa da agitação, da propaganda, articulação, rede de relações orgânicas, etc, etc. E não apenas fazer volume em atos e manifestações como vemos hoje em alguns casos (pra não ser indelicado ou derrotista) piada pronta que, as vezes, se estabelece nos nossos próprios círculos e comentários.

E, esta deve ser a questão. Solidariedade de classe se expressa no grau de vínculo e confiança, na contribuição, inclusive financeira, nas tarefas que fazem parte  do cotidiano da classe e não fora dele.

Talvez esteja sendo simplista. E nem é o objetivo desta contribuição, não escrevi essa opinião para ser teórica, porém, com aqueles que compartilho, fica a necessária reflexão: de quais devem ser as “novas-velhas” tarefas da esquerda?

Insisto, convivo com pessoas alheias a esse mundo da esquerda, e o faço isso como trabalhador, sem liberação ou cargos. Nelas vejo, ouço, compartilho e vivencio a realidade da classe assalariada, que produz a sua solidariedade, não de classe, mas humana. E é difícil ser “diferente” e ser um militante hoje do agitprop, mas o militante deve desempenhar sua tarefa.

E tenho reaprendido muito. Sobre nós e o que de fato representa transformar a sociedade.

Insisto, ensinar Josué de Castro, Nise da Silveira ou Gilberto Freire para as crianças e adolescentes  é provocar a necessária ideia de Brasil no plural. Se elas irão seguir os caminhos da esquerda, não sei, mas se buscarem seguir um caminho coletivo, de povo, já ficarei contente.

Ps.: Esqueci, mas inclui, que nas relações sindicais do sindicalismo dos professorxs também há esse vínculo, não em todos os níveis, mas há. E pode ser isso que mantêm o seu vigor sindical na base.

terça-feira, 21 de novembro de 2017

O voto: ainda a arma e o fetiche da nossa esquerda.

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Não existe posição política sem força política. Não existe força política sem influência pública. Não existe influência pública sem meios para obtê-la.

E em nossa débil democracia liberal meia boca, aquela pouco reformada pelos constituintes de 1988 e que gera essa sociedade política majoritária de oportunistas eleitorais, vende-pátria, vira-casacas, cafetões do voto periférico e representantes legítimos das elites, uma maioria que por vezes conquista o voto da classe trabalhadora, a mesma vítima depois dos seus “representantes”, expressam que caminhos táticos e tortuosos pelo qual devem passar uma parte da esquerda (na sua maioria).

Não é uma crítica ao processo eleitoral e muito menos um discurso despolitizado as eleições. Apenas pretendo avaliar o fato que tornou as esquerdas no Brasil dependentes de um lugar que carrega suas condições de classe e que ainda é o campo das denúncias que é a ocupação, pelo voto, das suas representações nos parlamentos e no executivo.

Hoje, a rigor temos que admitir o mal necessário que o processo de impõe nas nossas esquerdas, digo isso no plural já que divergimos tanto na tática, quanto na estratégia, e onde a luta pelo voto é a expressão dual do que um pensamento de esquerda pressupõe.

O voto ao mesmo tempo que politiza, despolitiza.

Conclamamos o voto politizado, das ideias e, portanto, ter a compreensão das massas é fundamental. Mas isso exige um certo grau de valor que passa mais pelo crivo da moral do que da ética, ou seja, nós pedimos o voto no projeto popular, mas o conquistamos pela “honestidade”, “atenção individual ou familiar” e referências, esse último podendo ser o voto politizado.

Na forma, todos os partidos a rigor precisam dialogar com a média do pensamento nacional e que devido a formação histórico-pedagógica, meios culturais e de comunicação, cotidiano alienante e ausência de uma cultura política participativa leva mais a esquerda a fazer um “garimpo” do que diálogo fraterno voto a voto.

Isso explica a nossa luta intestinal por aparelhos sindicais, movimentos sociais e exposição pública, na ausência de uma disputa de ideias, disputamos um nicho mais politizado das massas e fora disso o que vier é lucro. Vide o voto identitário, que fora do espectro da consciência para si, a grande maioria embarca o discurso ideológico vigente.

Mesmo as forças políticas sem representação político-institucional dependem da disputa eleitoral formal, utilizando canais como o horário eleitoral obrigatório como meio de difundir suas ideias – com o mesmo baixo impacto do “garimpo” – e com um dos seus objetivos pragmáticos de manutenção do partido e seus meios para existir no próprio jogo institucional.

Outras forças políticas partidárias tornaram-se máquinas eleitorais com ampla penetração na massa, fazendo escolhas como a governabilidade para implantar pequenas reformas sociais de impacto direto e conquistaram a atenção do “eleitor”. O risco da estratégia é sempre o custo que isso atrai.

Tornar-se um partido de massas eleitoral e influente traz o problema das alianças e a imposição de filiações de conveniência, fora das regras político-ideológicas e agregando métodos de acúmulo de votos idênticos aos do outro lado da classe.

De descamisados a mercenários, acumula-se a despolitização das relações, jogando o debate político (nas esquerdas) para o campo da moralidade (liberal-conservadora) e redefinindo o perfil dos seus militantes, onde muitos tornam-se “seguidores” deste ou daquele “líder” a depender o humor financeiro, do espaço de poder e do “jeitinho” individual.

Esta última questão faz a disputa eleitoral e o jogo institucional cair progressivamente em termos de constituição das esquerdas como força alternativa.

Nesse quadro, isso explica porquê o principal partido de esquerda com mais de um milhão de filiadxs não conseguiu impor-se diante da massa “verde-amarelo” no impeachment de 2016.

Pois, se seguir a tradição histórica das esquerdas, ser derrotado pelas instituições burguesas seria o menor dos problemas se houvesse uma resposta efetiva e de massas a fazer frente e expressar que o campo da disputa seria polarizado. Mas no final não é o que foi estabelecido, seja por ausência de direção ou de mera representatividade cartorial, nesse momento ainda sentimos os efeitos da derrota.

Portanto, para cada lado das esquerdas a luta pelo voto é um fato. Negar sua busca é mentir para massa e para si mesmo.

Reconhecer essa condição tática não é erro, é estratégia.

Reposicionar é admitir que nesse momento todo quadro político deve se colocar nessa tarefa. Mesmo sem unidade central, que seja pela pauta.

E que seja politizada. Se não há dinheiro, há solidariedade. Ou seja, se a causa é importante, se a candidatura expressa esses valores e se há compromissos coletivos, que ocupemos as ruas, praças, quebradas, vielas, condomínios, enfim, usar a nossa máquina: ideias, voz, sapatos, tempo disponível e relações.

A esquerda estigmatizada tem que ser exterminada na visão dos conservadores-liberais, capitães do mato do mercado financeiro e todo tipo de oportunista local ou regional. Mas a derrota destes também é nossa vitória, campanha para tirar esses votos é avançar um pouco a nossa resistência. Temos que tirar o “brinquedo”, enfraquecer o inimigo.

A vitória maior seria essa conjugação de programa, ações e iniciativas, do que estão na esquerda, mesmo nas legendas contraditórias ou até de direita. Um progressista hoje vale mais do que um esquerdista ressentido.

É preciso unidade pelo menos no reconhecimento do debate eleitoral pelas esquerdas. Estamos no jogo, mesmo negando, jogamos o jogo.

Precisamos convocar uma conferência ou fórum ou seminário ou o raio que o parta para reunir as esquerdas nessa reflexão. Sem pretensão de unidade eleitoral, mas de discutir nosso papel no processo eleitoral.

Dialogar é um passo. Se não for por nós, que seja pela classe trabalhadora brasileira.


Wagner Hosokawa – Militante do PT de Guarulhos (SP) e docente do curso de Serviço Social da UNG/Ser e autor do livro: Orçamento Participativo: uma experiência de articulação entre o poder local e democracia participativa na cidade de Guarulhos (2001-2011) link: http://www.portodeideias.com.br/autores/wagner-hosokawa/orcamento-participativo.html

domingo, 19 de novembro de 2017

PARA ALÉM DE 2018: uma nova cultura política participativa assusta?

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Fim de 2017, ano maldito para política e principalmente para a classe trabalhadora brasileira, tão alheia a tudo, a música que resume o momento é aquela que diz “isso tudo acontecendo e eu aqui na praça dando milho aos pombos”, e de fato a perplexidade atingiu a todos e todas nós de alguma forma.

Cada militante tem feito as suas escolhas, individuais e coletivas, para enfrentar esse momento e tentar contribuir para que pelo menos o conservadorismo oportunista não avance tanto como temos assistido. Mesmo que a sociedade não se manifeste e que pesquisas e outros indícios mostrem o contrário, o certo é que pessoas e grupos encontraram o seu filão para alçar financiamento e projeção pela via democrático-liberal de democracia meia-boca que consolidamos pós-ditadura civil militar.

Nem preciso citar nomes ou dizer quem são os que se escondem atrás da bandeira verde-amarela para gritar contra o PT, no impeachment e agora nas expressões culturais, identitárias e da legislação social conquistada. Fazer cartaz a estes que impulsionam o milico-deputado é como “ajudar” indiretamente quem merece ser esquecido pelo bem da humanidade.

Mas a questão não é essa. Pelo menos para uma esquerda que pressupõe mudar, reformar ou transformar a sociedade, seja pelo Estado ou pelas suas bases, ou tudo isso junto e combinado, a questão deveria ser a cultura política. Onde mais do que um objeto de estudo sociológico, deveria ser elemento da estratégia de qualquer partido político ou organização que se auto reivindica de esquerda.

Nossas pautas estão cada vez mais fragmentadas. Se o Brasil é o país da desigualdade, também é o de maior número de reivindicações por metro quadrado, ou seja, não há justiça social que dê conta.

Na contrapartida nenhuma reforma que tenha sido realizada desde o governo Lula-Dilma será tão marcante do que o Estado de Vargas e a estatização dos governos militares, duas reformas que hoje são reivindicadas por nós, parte da esquerda brasileira. A primeira no combate as reformas trabalhista e previdenciária e a segunda na resistência a nova onda de privatizações.

O que está errado nisso? Simples, reformamos o andar de baixo sem retirar o excesso do andar de cima, basta ver como Temer (golpista) destruiu e destrói em poucos meses de governo quase toda política social e econômica dos 14 anos de governos Lula-Dilma.

E como explicamos isso?  Pelo caminho mais fácil, criticando a base do governo Temer no congresso nacional. O erro em duas partes, uma é que esta mesma base andou de rosto colado com a “onda” Lula-Dilma em seus palanques e pedindo votos e com uma mudança medíocre do centro do poder, quase todos retornam a sua real posição política anti-povo, anti-classe trabalhadora.

O caminho difícil é analisar a fundo em que momento não realizamos uma reforma que impactasse parte da sociedade brasileira para uma inflexão para uma nova cultura política participativa, que incluísse a sua iniciativa em parte do seu tempo livre e com disposição para defesa do seu projeto de país, Estado e sociedade.

Falta essa analise inclusive para entender a passividade do momento e o atraso enquanto sociedade civil. Atraso que se expressa na conciliação da constituinte de 1988 da qual Florestan Fernandes já denunciou e alertou com relação a conciliação de centro-direita e a conformação das conquistas sociais pela esquerda.

O velho discurso do “fizemos o que foi necessário” ainda vive nas desculpas que a esquerda precisa dar a classe trabalhadora. Mas o pior é que esse velho hábito que buscou tirar o país das “garras” de uma ditadura militar semi-morta, com movimentações inclusive da FIESP, à época, expressando que parte da burguesia também não se interessava pelo meio que construiu para usurpar o poder só indicam a urgência do momento atual e as alternativas que precisam ser construídas.

O centro do debate que deveria ser “como constituir força para mudar a cultura política?”, não pode ser uma tese de congresso ou discurso de palanque, com o risco de continuarmos a eleger governos “bons” na média, mas que não buscam constituir parte da sociedade enquanto força política hegemônica das mudanças, mesmo nas reformas.

Quando trato da cultura política, incluindo a palavra participativa, não me refiro a cobrar os governos Lula-Dilma por um eventual “orçamento participativo federal”, ou destinar que uma parte dos recursos federais pudessem ser definidos pelos conselhos de políticas públicas, não, não me apego a isso.

Me apego ao que objetivamente tivemos no debate da passagem de ônibus, das encrencas da Copa e das Olimpíadas e das escolas ocupadas, e me refiro sim ao orçamento público, mas em outra direção, menos complexa do que uma emenda constitucional ou coisa do tipo. Me refiro ao lugar que poderíamos ter constituído de força através do emprego dos recursos públicos aplicados no “público”. 

Digo, a quem serve o sistema público de saúde? A quem serve o ensino básico e médio? A quem serve os pontos de cultura? Iniciativa boa e também deturpada pelo oportunismo político.
Dinheiro público por dinheiro público também não! Muito menos para o modelo associativo que temos. Mas para um conceito que é aplicado em experiências como na Venezuela (conselhos comunais) (Allegretti et al. , 2012) e até nos EUA (pelas escolas públicas em Chicago) (Fung, 2003).

Ou seja, o Estado vem com a sua parte de responsabilidade, injetando recursos para o bom funcionamento do sistema público, porém uma parte dos recursos devem ser destinados a capacidade de organização coletiva, diálogo, construção conjunta e solidária, novas iniciativas, enfim, numa infinidade de ações e programas que só poderiam ser feitos com a boa transparência que exige a legislação e a ideia de função pública aliada ao investimento que só pode ser feito pela intervenção de todos e todas.

E no que me baseio isso? Bom, recentemente tive o apoio de uma companheira que permitiu que eu publicasse minha dissertação de mestrado onde pude estudar e pesquisar o Orçamento Participativo (OP) na cidade de Guarulhos (SP) articulando dois conceitos, Poder Local e Democracia Participativa no exercício desta experiência de gestão pública no período de 2001 a 2011.

Minha hipótese concentrava-se primeiro na verificação se houve mesmo uma articulação (direta ou indireta) com as ideias de Poder Local, aquelas preconizadas pelos professores Milton Santos, Celso Daniel, Ladislau Dowbor, entre outros, e a Democracia Participativa em Avritzer, Francisco Oliveira e outros. Pois, sendo o OP um lugar onde Estado e sociedade deliberam onde devem ser investidos os recursos públicos, a partir da ampla participação (assembleísta) com negociação e pactuação de compromissos, operando na dinâmica dos municípios, dividindo-os por região, era obvio de que estes territórios estavam sendo redescobertos pela sua população, interativamente, buscavam resolver seus problemas imediatos via OP.

Uma vez forjada um novo homem e uma nova mulher nas formas de expressar sua vida política, o OP seria então apenas um meio para novas formas participativas livres da velha política eleitoral-oportunista. Porém, a pesquisa parou por aqui. E a iniciativa do governo do PT de Guarulhos também.

Basta lembrar que o OP é uma das experiências de gestão pública mais bem sucedidas implantadas pelo PT desde 1989 em Porto Alegre e que espraiou-se pelo país e no exterior. Sendo disputada inclusive pelo pensamento gerencial neoliberal, quando o Banco Mundial cria sua versão do OP para controlar as finanças públicas dentro da “racionalidade” na qual o público agora é o seu controlador direto.

E a cultura política? Ela mudou de fato? Bem este é o centro do que foi pesquisado e mesmo que tenha conseguido um universo bem pequeno de entrevistados, ao todo seis ex-conselheiros do OP eleitos pelos seus pares, a população das regiões onde moram, o que foi significativo foram os depoimentos que na média expressam o perfil da população que foi seduzida pelo OP, todos entre 40 e 60 anos, poucos com ensino superior, trabalhadores assalariados e moradores cuja preocupação era melhorar as condições de vida do seu bairro ou região.

Desse ponto de partida temos nos relatos o descrédito com a política tradicional, o envolvimento com a participação política tornando-se uma parte do seu cotidiano de vida, as realizações do OP como expressão do que Florestan Fernandes já atestava, “de que o povo precisa de vitórias para seguir lutando”, esse era o sentimento básico dos que passaram pelo OP de Guarulhos.

O que me remete a uma necessária conclusão: a de que é possível mudar, transformar e construir uma nova cultura política, com a participação a frente, para operar uma nova sociedade e um novo Estado. Contudo, a tarefa do lado de cá é mais tortuosa, depende de tempo e ousadia, que não podem ser contabilizados em nenhuma propaganda eleitoral de governo.

Explico repetindo o que foi o sentimento de parte do congresso nacional contra o decreto que Dilma havia publicado que estabelecia o Plano Nacional de Participação Social duramente atacado e taxado absurdamente como “plano soviético”, “socialização forçada”, e coisas desse tipo que nada expressavam o interesse do decreto.

No final, a iniciativa mais atrapalhou do que ajudou no quesito participação social. Primeiro, porque os debates giraram em torno da luta político ideológica de uma direta que abraça a conciliação de 1988, assim como comercializou a independência em 1822 e negociou pelo alto a proclamação da república em 1889, ou seja, sempre barganhou o Estado, mas nunca quis a democracia no pacote liberal na versão brasileira.

E ao fim de tudo, democracia participativa não se impõe por decreto. Ou emerge como iniciativa de uma força política que seja autentica, das massas populares nesse caso, ou vai ser novamente um lugar vip na luta político-ideológica.

Lembremos que esse país moderno, progressista, democrático e plural existiu apenas nas nossas cabeças e impressões. Nosso combate deveria ter sido pelos direitos públicos já consagrados, saúde e educação, promovendo reformas estruturais com os recursos que tínhamos (em excesso) disponível, anos de deliberações de conferências e uma legislação pouco implantada, forjada na concepção de público com “P” maiúsculo, unindo forças com um servidor público que buscasse sentido na sua tarefa pública aliada ao fortalecimento da participação da população nos seus rumos.

Não sei se será em 2018 que alçaremos isso. Pelos discursos do conjunto da nossa esquerda, a democracia participativa não está na pauta, mesmo que estratégica. Os meios para fazer isso dar certo não passa pela constituinte do sistema político apenas, mas pelas bases que podem defini-lo. Nem mesmo o referendo que Lula propõe tem condições nas atuais circunstâncias legais. E aí reside o erro.
Seremos capazes de fazer o que a sociedade, em especial, a classe trabalhadora quer? Se não assumirmos o risco pela práxis ao ganhar as eleições, isso se tornará novamente uma bravata de palanque. E essa traição não será perdoada.

E qualquer mudança que seja pelo caminho do estímulo à participação política não pode perder de vista os meios e as formas para conquistar a população.

Recentemente, como disse, publiquei minha dissertação em livro e tive muitas recepções carinhosas de todos e todas, sei que muitos foram pelo profundo respeito a minha pessoa e menos pelo tema que abordei. Espero que em algum momento isso se inverta. Inclusive para receber as críticas necessárias para debatermos quais seriam os melhores caminhos para constituir uma nova cultura política pela participação intensa e pulsante da classe.



Para qem se interessar: http://www.portodeideias.com.br/autores/wagner-hosokawa/orcamento-participativo.html


terça-feira, 31 de outubro de 2017

Eles não Usam Black-tie. Ou porque não estamos derrotando o golpe?

Um longo caminho. É assim que vejo a questão da resistência ao golpe de 2016 e o que enfrentaremos pela frente. Muitos debates estão saindo aos milhares, como se algo tivesse saído por um "portal" de outra dimensão e libertou demônios e seres estranhos à sociedade democrática que supúnhamos ter.

Ou será que eramos nós que construímos um "mundo a parte" e tínhamos certeza do seu funcionamento "republicano" e dentro de parâmetros democrático-liberais, onde pairava a luta contra o acumulo de riqueza desenfreado e a "guerra" de narrativas. Tudo errado, ou equivocado. 

Já faz um tempo que me perturba a nossa esquerda brasileira, a nossa intelectualidade referenciada no pensamento refinado estadunidense ou eurocêntrico e o desprezou ou negligência aos que buscaram tentar pensar o Brasil. 

Se a ideia de nação para démodé, isso seria verdade se tivéssemos tido períodos longos de exercício democráticos ou de grandes acordos nacionais em uma perspectiva liberal clássica (e não me refiro ao lixo que tem se formado aí afora) ou como diria um intelectual, pior que ser dominado por uma elite, é ser dominado por uma elite medíocre.

Não vejo com tristeza ou desânimo o fato de que estamos em um período de baixa das forças sociais adiante da resistência ideopolítica e as reformas neoliberais promovidas, é evidente que é ruim percebemos que nossos atos, mesmo que representativos, não sejam efetivos para intervir no processo político. 

O que estamos vivendo é uma transição. Para qual lugar e para que sociedade brasileira deveríamos seguir? Bem, esta resposta só pode ser respondida pelas nossas reflexões-ações e do acumulo das nossas perspectivas de luta e resistência de médio e longo prazo. 

Mesmo que 2018 esteja na porta e o grande líder esteja percorrendo o Brasil, apostar no curto prazo é pouco demais para uma classe trabalhadora toda que ainda apática pode buscar o seu caminho tendo a certeza do seu passado, firme no presente e projetando com ousadia o seu futuro. 

Bom filme! 



Orçamento Participativo, uma experiência de articulação entre o poder local e democracia participativa na cidade de Guarulhos (2001-2011) - disponível na Porto de Idéias

http://www.portodeideias.com.br/orcamento-participativo.html (Acesse pelo link, e boa leitura)

Orçamento Participativo
Zoom

Orçamento Participativo

uma experiência de articulação entre o poder local e democracia participativa na cidade de Guarulhos (2001-2011)

ISBN 978-85-8061-136-6
14 x 21 cm
Brochura, 176 p.
Disponível: Em estoque
R$35,00
 

9 andar - Documentário Universidade Sir George Williams - racismo

domingo, 15 de outubro de 2017

Resposta a ignorância: Pensando com Paulo Freire

Pensei, pensei, pensei...logo refleti que melhor que xingamentos e ofensas já distribuídas pelos cantos, melhor resposta é o conhecimento.



E assinem o abaixo assinado em defesa desse educador brasileiro:

http://www.peticaopublica.com.br/psign.aspx?pi=BR102084



terça-feira, 10 de outubro de 2017

Prefeito de Guarulhos privatiza serviços públicos em nome do lucro sobre as pessoas.

"Privatizaram sua vida, seu trabalho,
sua hora de amar e seu direito de pensar.
É da empresa privada o seu passo em frente,
seu pão e seu salário.
E agora não contentes querem
privatizar o conhecimento,
a sabedoria,
o pensamento,
que só à Humanidade pertence."
Bertold Brecht
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O Projeto de Lei 4.865/17 aprovado pela Câmara de Vereadores na "urgência" representa, em versão menor, o tipo de gestor que o neoliberalismo tem produzido desde a década de 1990. Uma "nova" safra de gestores a serviço do lucro fácil permitindo que o setor privado se aproprie do que não lhe pertence e recebendo todos os benefícios já investidos com dinheiro público, pois, depois de bilhões e milhões de recurso público investido nas construções e demais melhorias, o setor privado ganha, prontamente, o lugar. 

Geralmente maquiando, tenta iludir a massa quanto a "mudanças" e "melhorias" dos serviços, quando o que está escondido é justamente a falta de concorrência para desempenhar aquele serviço, recebendo vultuosos recursos públicos as custas da população.
Nem me preocupo em apresentar o projeto, agora lei, porque não merece tempo nisso, se quiserem podem conferir no Diário Oficial do município na página 06 - já que nem no site do legislativo é possível obter (http://www.guarulhos.sp.gov.br/uploads/pdf/1803431241.pdf) analise e tire as suas conclusões. 

De qualquer forma, o projeto cita a lei federal (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8987cons.htm) que já é do governo FHC e permite a concessão e prestação de serviços públicos, ou seja, uma porta que foi aberta e não foi fechada na era dos governos do ex-presidente Lula e nem Dilma, e que manteve aberta o processo de privatização sobre o pretexto da "concessão" e do louvor ao setor privado.

Sobre os servidores públicos atuais sobrará a precarização e o não-investimento nas necessidades básicas do trabalho no atendimento à população, novos ataques como a não-realização de concursos para vagas necessárias nas áreas e imposição de derrotas às categorias nas campanhas salarias e de defesa dos seus direitos.

Nem entro no mérito da corrupção. Pois sabemos como o financiamento público alimenta o setor privado e devolve isso legalmente e em parte nas campanhas e apoios generosos a filantropia político-eleitoral e outros, ou seja, pior do que a corrupção é a forma usurpadora de drenar recursos do Estado para o privado e o financiamento desse modelo de projeto político.

Quem perde também, e sempre, é a população que pouco pode reivindicar diretamente com o governante, verdadeiro responsável pelo bem e serviços públicos, mas que se esquiva dos problemas no jogo de "empurra" para o setor concessionário.

Verdade seja dita, lições para esquerda. Não é novidade como esse projeto começará a operar e será a partir dos novos serviços a serem criados. Vejamos o governo do estado de São Paulo que é expert em conceder hospitais públicos estaduais e contratação precarizada nas ETEC's, qualquer semelhança não é mera tragédia. 

Também durante os governos do PT os novos serviços também foram concedidos sem um projeto especifico, apenas seguiu o roteiro da legislação de FHC, no caso do Hospital Pimentas-Bonsucesso gerido pela SPDM (Unifesp) e alguns PA's com a Santa Casa de SP, ou seja, do lado de cá, pouco a argumentar. Não digo que não tenha que resistir.

O tempo dirá o quanto perderemos enquanto Estado Democrático e de direitos universais e quanto sociedade civil. Resistir ainda é a única saída.

Certo é que as elites guarulhenses, suas representações política e econômica, estão em fina sintonia, basta ver a ausência de um debate sério na imprensa local, comportadinha e num claro alinhamento, onde antes essa subserviência do legislativo era um "crime contra democracia", agora parece gesto de "boa vontade". Nesse caso não são os valores que se invertem, mas os interesses que se confluem.   

Não nos espanta a baixa mobilização, a falta de retaguarda para que os servidores públicos pudessem se manifestar e uma certa apatia do período, com as reformas como a trabalhistas  e novas privatizações pronta para serem publicadas ainda mexem com a situação atônita que atinge a classe trabalhadora.

links:
10/10/2017 - terça-feira

Stap estuda entrar com ação
 judicial para revogar lei da privatização

Nosso Sindicato avalia entrar com ação na justiça para acabar com o Projeto de Lei 4.865/17, que foi aprovado nesta segunda (9) na Câmara Municipal de Guarulhos, em sessão extraordinária. O PL, que trata de terceirizações e privatizações de serviços, obras e bens públicos, foi aprovado em primeira e segunda discussão, depois de os vereadores discutirem e votarem mais de 40 emendas. 

Advogado do Stap, dr. Marcelo Mendes Pereira diz: “Vamos observar os fundamentos para entrar com uma ação judicial, a fim de que esse projeto, que fere a Lei Orgânica do Município, seja revogado”.

Histórico - Na calada da noite, Guti enviou o “pacotão” que desmonta o serviço público ao Legislativo. Desde então, o Sindicato se pôs contrário ao projeto, que dá margem à Prefeitura cobrar até entradas de parques municipais como o Bosque Maia, Zoológico e Parque Chico Mendes.

No dia 3 de outubro, o Stap convocou e mais de centenas de Servidores foram à Câmara para contestar contra o projeto que seria votado naquele dia, no entanto, a sessão foi cancelada.

Dois dias depois, na quinta (5) nosso presidente Pedro Zanotti Filho criticou o projeto na Tribuna Livre da Câmara: “O prefeito quer leiloar nossa cidade. Quer um cheque em branco. Quer transferir tudo à iniciativa privada”. No mesmo dia, o presidente do Legislativo, Eduardo Soltur (PSD) convocou a sessão extraordinária para a segunda (9).


Na quinta (5), nosso presidente fez critica ao projeto de privatização na Câmara 

O Stap seguiu com denúncias a “Operação Desmonte”, com ações nas redes sociais e conscientização da população. Na segunda (9), nosso advogado emitiu um parecer que aponta ilegalidades do projeto. Ele analisou: “Trata-se de regulamentação daquilo que se pretendeu com a odiosa lei de terceirização, mormente nas atividades do serviço público, que, todavia, data máxima vênia, não lhe é aplicável por força de mandamento Constitucional”. 

Depois de 16 horas de sessão, Câmara aprova projeto

Os vereadores da Câmara de Guarulhos aprovaram o substitutivo nº 1 ao PL 4.865 de 2017, do Executivo, que disciplina as concessões e permissões de serviços, obras e bens públicos no âmbito do Plano Municipal de Modernização Administrativa. A sessão durou cerca de 16 horas.

Confira a lista de vereadores que votaram sim a privatização:

Betinho Acredite (PTB)

Carol Ribeiro (PMDB)

Dr. Alexandre Dentista (PSDC)

Dr. Eduardo Carneiro (PSB)

Eduardo Soltur (PSD)

Geraldo Celestino (PSDB)

Jorge Tadeu Mudalen Filho (PMDB)

João Barbosa (PRB)

João Dárcio (PODE)

Lauri Rocha (PSDB)

Luis da Sede (PRTB)

Moreira (PTB)

Pastor Anistaldo (PSC)

Paulo Roberto Cecchinato (PP)

Professor Jesus (DEM)

Rafa Zampronio (PSB)

Ramos da Padaria (DEM)

Sandra Gileno (PSL)

Sérgio Mgnun (PEN)

Serjão Inovação (PSL)

Thiago surfista (PRTB)

Tico Emerson (PP)

Toninho da Farmácia (PSD)

Wesley Casa Forte (PSB)

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

A esquerda brasileira: fazer tudo pode não representar nada!

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Na "Era dos Extremos" do profº Hobsbawm ele traduz os fatos pelos quais nossas vidas atravessaram o longo e desafiador século XX. E o que podemos dizer do século XXI?

Poderíamos dizer que, até o momento, vivemos os "extremismos da era", ou seja, fantasmas do passado como nazismo e o fascismo retornando na cena pública, desfilando (literalmente) suas "verdades" e (pasmem) sendo alimentado por um modelo educacional que foi sendo enquadrado em determinismos, minimalismos e resumos-dos-resumos, independente se for particular ou pública, a escola tornou-se item obrigatório e desinteressante pela máquina financeira do capital e seus funcionários "eleitos" para "governar".

O atual estágio de formação dos sujeitos pela educação formal segue passos largos de algo que tornou-se institucionalmente inviável, pois, intencionalmente, acabar com esse modelo de ensino tornou-se parte do fetiche do capital. 

Vamos aos fatos: o capitalismo seguiu seu curso, suas reformas e seu controle sobre as finanças globais, submeteu estados nacionais a total submissão de um novo modelo de mercado ancorado na mais medíocre das funções de criação de mais-valia, subtraindo não apenas o lucro, mas também a ilusão disso em formas não-capitais como juros, fazendo com que o capitalista agora viesse a acumular: juros.

Apoiado por um processo de produção transnacional e corporativa, derrubou todas as barreiras planetárias, onde qualquer pequeno ou micro comerciante pode importar produtos com menor custo vindo dos portos e aeroportos de qualquer país, consumir "importados" não é mais o fetiche da classe (assalariada) média, contudo, agora o inacessível e a ostentação demandam essa supervalorização de ego consumista, além da narrativa das forças políticas no controle desse poder tornou-se única e indivisível: qualquer ajuste fiscal desestabilizador de direitos é solução para Grécia, Espanha, Brasil, enfim, finalmente o país irá dizer que segue uma diretriz implantada nos países "ricos".

Não bastasse isso, admitir que o capitalismo em sua neoliberal venceu e nem de longe perderá as atuais batalhas não é nenhum sentimento derrotista, mas realista. E o que mais agoniza e será a "bola da vez" será a educação.

Educação que se torna "universal" nessa campo contraditório do sistema (capitalista) vai penetrando como uma reivindicação necessária da classe trabalhadora, mas também da classe burguesa. Ambos ganham, mas precisam acessar e desfrutar de forma diferente. E assim foi até o final do século XX.

Ciência e conhecimento universais, pesquisas voltadas para alcançar benefícios para humanidade, ensino superior como o lugar sagrado da produção cientifica, de profissionais habilitados e campo "neutro" das disputas ideo-políticas, incluindo as vaidades e vontades dos governos, vai seguir um caminho tortuoso.

O capitalismo dirigente não dá ponto sem nó. Utilizando-se das tecnologias para ampliar a produtividade, a lucratividade em níveis jamais vistos na sua história e mantendo, assim, a classe trabalhadora em condição de controle absoluto, via desemprego, precarização e pulverização do processo de trabalho vinculado a flexibilização do jogo jurídico-trabalhista, isso em algum momento, afetaria também a boa e velha escola.

Muitas vozes, principalmente a serviço do capital, tem cuspido na escola que estudou para justificar que as massas precisam de formação "rápida" e "qualificação", não sendo necessário o tempo "desnecessário" com conhecimentos universais que se tornam "complementares" ao gosto e a "liberdade de escolha" de cada indivíduo.

O neoliberalismo está criando um novo direito: o direito de ser idiota!

Sim, quando a educação formal chega no ponto do seu esgotamento físico, econômico, cultural e político, algo me fez refletir e perceber que é INTENCIONAL termos uma escola ancorada a um modelo institucional-formal degradante, de assimilação do conhecimento pelo "mantra" da leitura repetitiva, com lousa e giz, não informacional e de auto-gestão do caos. 

As reformas propostas para o ensino médio expressam essa vontade insaciável do capital neoliberal de tornar o indíviduo "livre" do conhecimento universal, para escolher em qual fast-food empregacional irá trabalhar. Quando digo "fast-food empregacional", refiro-me ao a atual reforma trabalhista e a enorme tendência de uma classe assalariada precarizada e sem acesso aos direitos da seguridade social ou aposentaria pelo desgaste do trabalho.

O capital age como "bons espartanos" empurrando a nós, a "massa de bárbaros" para o precipício, ops, precipício será uma palavra muito refinada para nova educação modernizante do capital neoliberal, melhor dizer: "pra fundo do buraco".

E porque digo no título que "fazer tudo pode não representar nada", bom a julgar pelo que consideramos "estar em movimento", para alguns de nós, pelas nossas referências, "estar em movimento" significa o conjunto combinado ou não de nossas ações, formações, lutas sociais, enfim, temos objetivos comuns e estamos em franca construção disso.

Não é o que a conjuntura apresenta. Vamos aos fatos sobre as nossa esquerda, a começar pelo PT (com as ressalvas todas) a ausência de máquina estatal e até mesmo parlamentar levou uma parte da militância a retornar para outras máquinas como a sindical ou para o mundo real da sobrevivência, ainda é forte o susto com o golpe de 2016 e a progressiva campanha contra o petismo deu contornos de racismo e fascismo direto com ampla disseminação de preconceitos, que se observadas as devidas proporções são destiladas por jovens ou adultos na faixa dos 30 a 40 anos, basta analisar os perfis no facebook ou twitter e a narrativa primária dos ataques que vão desde a questões do "comunismo", ao uso da máquina estatal, ou descaso, ou corrupção, além do processo que já citei, a completa intolerância, falta de respeito e idiotice assumida na criação ou contestação de fatos ou dados, onde você fala de direitos trabalhistas e a resposta automática é o tal do "não existe almoço grátis", uma bobageira criada e disseminada, para travar o debate político e não fazer avançar. Não há companheiros, o grau de disputa pelo seu lugar ao "parlamento" (ao sol seria dar crédito ao concorrente) é evidente, e onde um petista ocupa o cargo, uns dez saem, pois lá ninguém quer "ajudar" ninguém, onde o PT internamente tornou-se um lugar em que "desejar sorte" é dizer "espero que afunde". Somando isso a ausência completa de direção, mesmo depois do seu último congresso, apostando todas a fichas no retorno do grande líder das massas. Sem pontes e nem amarras com setores da esquerda, o discurso da "frente ampla" continua sendo de forma arrogante, "eu sou o cara" ou o "PT é o maior partido", desse jeito e sem uma real reflexão coletiva apoiada nas bases, tudo tendo a dizer que 2018 é mais incerto que 2016.

O Psol busca brigar e tender a querer apenas a herança do pós-lulismo, nada indica que o esforço de guerra será pela "frente ampla", pela mesma arrogância do PT, numa linha "eu disse". Combativo, esquece-se que na pasmaceira da política brasileira, os primeiros que perdem são os que defendem posição ideológica e diferente dos demais partidos, é o que mais perde com o golpe, ops, a reforma política proposta. Ainda vive outro drama, ausência de unidade, coisa que o primeiro também vive, de forma diferente, virou satélite de um leque de movimentos e ativistas que busca fazer resistência político-institucional com o pé nos movimentos (ops, outro ato falho, esse discurso era do PT da fundação, "partido sem patrão") mas não construindo coesão de dentro para fora e de fora para dentro em um projeto maior. Pena, porque aqui perdemos todos e todas.

PCO honestamente quer o espólio e a massa falida do PT. Tem de forma generosa feito uma inflexão trotskista para tática, já que a estratégia esta enormemente longe, desculpe a gramática, mas é assim que estamos. Contudo, longe também de êxito em apresentar-se como força política que irá retomar a narrativa do processo histórico pertencente a classe trabalhadora.

Pstu, poucas palavras, haja visto que se conjuntura fosse um jogo tipo batalha naval, só restaria o bote salva-vidas, pois a julgar a sua análise da Venezuela e seu flerte com a direita anti-PSUV,  e não contra o "chavismo" como dizem, uma vez que o legado desse processo é estabelecer um novo centro do poder, e é fato, para além do chavismo, o PSUV é uma força política de esquerda, popular, com capilaridade nas forças armadas, na sociedade civil e entre os trabalhadores, isso poucas forças de esquerda tem conseguido reunir. 

E os demais partidos? Incluindo o PCdoB, PDT, PSB, enfim, pouco a comentar já que contra Temer ou com Temer, a luta pelo espaço eleitoral-institucional e o desembarque do petismo tem sido a principal estratégia de todos. 

Portanto, ao observar as pautas, são milhões todos os dias e todas as horas, estamos ou observamos milhões de pautas, lutas sociais, identitárias, salariais, reformas, contra-reformas, falência institucional, guerras de todos os tipos sobre todos os assuntos inimagináveis, novos fatos se sobrepondo a fatos ainda presentes, enfim, o capital abriu a "caixa de pandora" e o atual estágio da tecnologia, principalmente informacional tem se disseminado como se o tempo agora corresse atrás dos fatos tentando alcança-lo.

A diferença é que quem esta no poder pode gerenciar essa tempo a seu favor. Nós, trabalhadores e trabalhadoras, temos que seguir sobrevivendo e lutando, individual e coletivamente, a ponto de parecer passivo diante de umas pautas e ativo em outros, o gesto "curtir" parece ser, para militância política, um gesto de reação para não ser chamado de "negligente ou displicente" às pautas diversas que são listadas todos os dias. 

Essa semana o blog do Sakamoto disse que não se manifestar contra a manifestação de facistas nos EUA era no silêncio da neutralidade, apoiar. Bom eu diria que se apenas postar nas redes sociais é gesto de não-neutralidade diante do grotesco fato ocorrido, para mim serve apenas de redução de "dor na consciência" pela nossa real negligência . Pois enfrentar o nazi-facismo é uma tarfa diária, de educação popular . (https://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2017/08/13/diante-do-odio-e-da-intolerancia-o-silencio-nao-e-neutro/)

Assim termino esse desabafo político (dos vários que tenho feito) para refletirmos qual é o centro das nossa disputa? O que nos faz estar em movimento de fato e não apenas com a nossa consciência tranquila? Ir a manifestação ou "curtir" ou postar uma opinião não é de fato estar em movimento, o que estamos fazendo para transformar e alterar a correlação de forças na sociedade?

Quando jovem li um artigo que suponho ser do Leonardo Boff que havia resgatado a estória da "galinha e da águia", e conta que auma águia filhote ao ser cuidada por um grupo de galinhas esqueceu-se da sua vocação natural, ser águia. Bom, espero que não estejamos tanto tempo sendo tratados como galinhas ao ponto de esquecermos de ser a águia necessária. 

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Estamos debatendo política assim???



* Nota1: também precisamos retomar o trabalho de base, e atualmente lembrei de outra estória envolvendo galináceos, sobre a galinha e a ema, no quesito tática e estratégia, pois, a ema é uma ave gigante e desajeitada, ao botar o seu ovo, que é enorme, o faz quieta e sem alarde. Já a galinha, ao botar seus ovos, que são pequenos comparados ao da ema, fazem um verdadeiro carnaval. Se queremos ser galinha ou ema, bem isso pouco importa, e a lembrança da estória também. Já que não estamos botando esse ovo grande de ema, sem alarde, e nem estamos fazendo um carnaval pelas pequenas conquistas que temos tido nessa conjuntura.

* Nota2: A partir de sexta, 18/08/2017, cumprida tarefa na Audiência Pública do PEEDHSP, como ainda estou "contaminado" pelo passado e buscando redenção para as lutas que se avizinham, e não estou falando de eleição, desta data em diante vou caminhar para o meu ostracismo. Sim, se minha pequena contribuição não é relevante, se minha presença incomoda e se o "amém" é a regra das nossas esquerdas, prefiro me resignar. Para alegria de muitos, muitos poucos "militantes de eventos", "oportunistas institucionais", "carreiristas sem carreira", candidatos a "militante youtubers" e outros tipos da fauna da nossa esquerda brasileira, eu prefiro mergulhar nos estudos, trabalhar no meio da classe trabalhadora (onde estou) e buscando contribuir microscopicamente com um nova ascenso que dê forças a nossa força política de classe. Deixo as vaidades e as verdades para quem queira construí-lá longe de mim.

terça-feira, 25 de julho de 2017

Quando a democracia atrapalha o capital.

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Das várias mídias e meios de comunicação que fazem o papel de "porta voz do capitalismo brasileiro", o "Valor Econômico" soma-se como mais um medíocre meio que provoca nossa perda de tempo em lê-ló em igual esforço que o faz em fazer "jornalismo".

E através de "mercenários modernos e midiáticos" busca impor um pensamento em seu discurso que mescla os mitos da "guerra fria" contra o terror da economia keynesiana, criticas tipicas da baixa capacidade intelectual dos neoliberais, que acham que dinheiro compra tudo. 

Bom, neste capitalismo neoliberal, de fato a alma de alguns economistas e jornalistas tem sido pagas de forma barata frente a desgraça que provocam contra o país e os trabalhadores assalariados nas posições políticas que publicam.

Ao afirmar nesta segunda-feira (24/07/2017) em matéria publicada por uma de suas mercenárias midiáticas do capital, afirma que "Eleições podem impor retrocesso às reformas", só faltando um subtítulo: "Pela volta da ditadura pelo bem do Brasil". O texto funcionando mais como um manifesto e menos como matéria jornalistica trás para o público um discurso conhecido e que provoca: medo, medo e medo.

Medo de que? Da DEMOCRACIA. Sim, é o que expressa a porta voz do capital meia-boca deste país. Quando propõe um levante contra o processo eleitoral que segue, esperamos, seu curso normal em 2018, justifica que a democracia é ruim às reformas que Temer apresenta, em nome do capital.

E a matéria do jornal "Valor Econômico" não afirma que o medo é pela candidatura de Lula ou do PT. O medo que cerca é do inimigo real e que de fato pode frear essas medidas anti-trabalhadores que estão sendo aprovadas a toque de caixa pelo presifake Temer.

O medo das elites é contra nada mais, nada menos: EU, VOCÊ, TODOS E TODAS NÓS trabalhadores (as)!

Sim, o medo é que a maioria que trabalha e deixa parte significativa da riqueza produzida ser concentrada nas mãos das elites, possa se vingar em 2018 elegendo parlamentares comprometidos com os interesses dos trabalhadores assalariados, formais ou informais, segurados e beneficiários da seguridade social e dos programas sociais.

Pois, para os capitalistas essa maioria deve servir apenas e unicamente para "aquecer" a gélida economia em crise do nosso capitalismo medíocre. Salvar a cadeia produtiva e distributiva de bens necessários e supérfluos, enfim, consumir para salvar os mesmos que nos exploram diariamente. Consumir pode, votar pelo seu destino, não!

O medo empregado, timidamente, mas percebível, publicado neste articulo rasteiro chamado "Valor Econômico"  ainda é subliminar, pois, ainda há uma certa reserva por parte das elites em descartar um principio que eles mesmos e as suas referencias liberais tanto "lutaram" que é o discurso da "democracia contra o comunismo". Assim, como um covarde, escondem-se atrás de jornalistas medianos, que fazem o serviço sujo de porta-voz da sua real vontade, que, não é uma ditadura militar, mas financeira.

Controlando do Estado, o capital já está fazendo deste país uma grande corporação financeira, por isso o jogo do poder tem girado mais em "ganhar" deputados e senadores amarrados no emaranhado dessa rede de interesses privados e econômicos, e menos no modus operante de Temer, Cunhas, Maluf's e outros. Ao capital não interessa necessariamente a corrupção, mas a apropriação do público pelo privado.

Os corruptos tradicionais, ops, políticos tradicionais não interessam mais nesse jogo, apesar de ter grande influência. Interessa, a uma parte dos capitalistas, jogar o jogo de capitulação de um lado e o controle por outro, ou seja, um estado provedor dos seus interesses, funcionando como uma "corporação" que torna a sonegação legal, a privatização inevitável e a dilapidação da riqueza nacional algo "moderno" aos seus interesses. Se o Brasil fosse um filme, seria "Robocop" sem um "héroi" ou um "Madmax" sem a alusão poética.

O problema é, que se para a esquerda brasileira não há um novo que expresse o futuro para construir uma nova conjuntura política progressista, democrático-participativa, socializante de direitos e etc., para essa fração das elites o seu "novo" também ainda não surgiu. 

Não emergiu de junho de 2013, não emergiu do "fora Dilma", não emergiu das eleições de 2016 e ainda não saiu das salas de aula de empreendedorismo da FGV ou dos MBA's medíocres Brasil afora. Essa nova geração engravatada ou de vestido tailleur não "vestiu-se de povo" e sua representatividade é medíocre, assim como sua atuação na política nacional.

O certo é que na avaliação dos mercenários do jornal "Valor Econômico" o lucro esta acima das pessoas, pois, o lucro pode garantir "crescimento econômico" que vai gerar as "condições do crescimento do país". Ok, o discurso é velho, a receita é velha e o resultado esperado para o país é desastroso. E mesmo assim, um novo deus opera a tempos na sociedade, e não é cristão e muito menos muçulmano, é o capital. Que deve usar seus meios de interferir nas eleições de 2018, mas se baixar uma ditadura também ficará feliz.

O que incomoda não é o fato de que o "Valor Econômico" faz uma pregação já conhecida, porém, sem coragem de dizer o que realmente pensa, apenas reforça a velha tradição da política brasileira do apaziguar e tentar conciliar o inconciliável nas relações capital-trabalho.

Retrocessos de um lado, via reformas trabalhista e da previdência, com ou sem Temer e do outro, via a manter o Brasil no atraso expresso nos comerciais de outro porta-voz do mercado, a rede Globo que quer que retornemos às elites agrárias de bota e arma em punho ao defender os agrocriminosos (o Brasil das capitanias hereditárias e latifundiárias) como se a produção de grãos fosse central e maior a produção de tecnologia e independência e o abismo do investimento lesa-pátria chamado tesouro-direto ou como eu prefiro chamar "investimento permanente da crise do Brasil".

Já tardou de termos um projeto popular para o país que combine suas riquezas existentes, a determinação popular da classe assalariada, entre tantas qualidades ocultas e não estimuladas. Se o nosso povo é solidário distribuindo entre si o pouco que tem, imagine se resolvermos socializar a riqueza para que todos e todas tenham direito a vida digna.

O desafio continua em ambos os lados, se nem mesmo os seguidores de Pondé conseguem engatar um líder político da nova direta e a fração financista das elites, concluímos que se do lado de lá ainda há dificuldades, e não encontrou seu rumo, cabe a esquerda brasileira constituir-se de capacidade militante para ousar, sem pressa para formar e organizar e com pressa para buscar ampliar sua representação em 2018. Tarefa difícil e que se não nos atentarmos a isso, quem perderá é a pouca e ainda única democracia que temos. 





Veja a matéria abaixo do jornal Valor:

Eleições podem impor retrocesso às reformas
Valor Econômico - Angela Bittencourt - 24/07/2017


A eleição presidencial de 2018 poderá minar o esforço empreendido até agora para aprovar reformas estruturais com o objetivo de promover uma recuperação econômica, capaz de minimizar os efeitos inquestionáveis da Operação Lava-Jato sobre a atividade.

Para grandes investidores, é de 90% a probabilidade de o próximo governo dar continuidade às reformas estruturais e garantir ao Brasil uma política fiscal sustentável e que dará suporte para uma taxa de crescimento econômico igualmente sustentável.

Os investidores não consideram a possibilidade de a corrida eleitoral mostrar que a probabilidade do ajuste é de 50% e não de 90%. Se for configurado o cenário de 50%, os preços dos ativos financeiros sentirão o baque em função da reestimativa do sucesso já creditado não se sabe a quem.

O mais provável é que tudo termine bem, mas isso não é certo. Nos próximos quatros meses nada acontece. Contudo, a corrida eleitoral pode levar o mercado a fazer o dobro do ajuste feito até agora em câmbio e ações. A delação dos irmãos Joesley e Wesley Batista, do grupo JBS, não promoveu esse ajuste. Os juros, em forte queda, seguem sua própria dinâmica. Reagem à inflação em queda e à atividade baixa.

Essa combinação permite ao Banco Central manter, por um período, o juro abaixo do patamar considerado 'neutro', que banca crescimento sem pressões inflacionárias. Um descompasso do juro corrente em relação ao juro 'neutro', estimado em torno de 8%, é necessário inclusive para a recuperação do crescimento", disse em entrevista à coluna, na condição de anonimato, um experiente profissional sempre dedicado ao setor privado e que hoje compõe a diretoria de uma importante gestora de ativos.

Questionado sobre candidatos que poderão despertar confiança nos investidores, nosso interlocutor apontou personalidades filiadas ao PSDB: João Doria, prefeito de São Paulo, e Geraldo Alckmin, governador do Estado. "O PSDB é um atestado de qualidade de política econômica. Qualquer candidato do partido seria recebido dessa forma".

Quanto às condições em que o mercado financeiro pode vir a receber uma candidatura de Ciro Gomes, do PDT, o diretor da asset garante que o ex-senador tem duas características entre aquelas que o mercado financeiro mais teme: "Vai fazer a coisa errada e de maneira errática. E isso é tudo o que o Brasil não precisa."

Nosso entrevistado lembra que os candidatos devem ser conhecidos no ano que vem, perto da eleição de outubro, e afirma que Marina Silva (Rede Sustentabilidade) é um balizador de preferências.

"De Marina à direita, todos serão vistos como bons candidatos e ela mesma pode surpreender sendo bem assessorada. O PMDB está fazendo uma política econômica exemplar, mas não parece haver condição de o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, se fazer candidato. Ele seria o ideal por sua credibilidade, experiência e acertos da atual gestão."

A atual equipe segue um "bom roteiro" de política macroeconômica. A questão fiscal não está equacionada, mas o teto de gastos do setor público foi um meio competente de endereçar os problemas fiscais. O diretor de investimentos de um conglomerado brasileiro entrevistado pela coluna afirma que o espólio do governo Dilma foi uma política macro toda errada, o que levou o país a crescer abaixo do potencial.

"A taxa de crescimento do PIB voltará ao seu potencial, mas além das reformas estruturais, o governo deve rever uma série de mecanismos que foram criados como paliativos. Um desses mecanismos é atrelar tudo à variação do PIB. O melhor exemplo é o salário mínimo. Mas o Brasil teve importantes avanços na área social", diz.

Esse profissional entende que a conquista de uma agenda social não pode e nem deve ser esquecida. "Temos hoje uma pausa na política de distribuição de renda. Ao mesmo tempo, com o desequilíbrio da Previdência, temos também uma transferência de renda do futuro para nós. O sistema de aposentadoria precisa ser totalmente reorganizado. O Brasil tem uma agenda fiscal complexa também em função dos gastos", comenta.

O entrevistado da coluna calcula que o ajuste fiscal deve ser equivalente a 5% do PIB. O problema é grave, mas não insolúvel. A carga tributária não vai subir mais e os gastos continuarão avançando. Ainda no escopo da política fiscal, entende a fonte, o governo deverá rever subsídios e optar pela transparência. "O BNDES tem subsídio para as suas operações, mas deveria demarcá-lo explicitamente e definir em que prazo esse mecanismo será usado."

As contas externas também chamam a atenção desse profissional que teme uma mudança de ventos, antes de o governo brasileiro realizar as reformas.

Os dados do setor externo divulgados pelo BC, na semana passada, mandaram um recado curto e grosso para o presidente Michel Temer: cuide da competitividade das exportadoras, faça valer cada centavo de investimento direto no país e não menospreze as políticas mais restritivas dos grandes bancos centrais.

O desempenho das contas externas também chama a atenção desse profissional que teme uma mudança de ventos no exterior antes de o governo brasileiro realizar as mudanças necessárias. "As condições internacionais ainda são bem favoráveis, mas os maiores bancos centrais do mundo estão em movimento."

No primeiro semestre, as contas externas tiveram o melhor resultado em anos. Fizeram diferença para melhor o superávit comercial e o ingresso de US$ 80 bilhões para investimento na economia real. O juro, ainda um dos mais altos do mundo, não evitou a saída de US$ 11, 3 bilhões de estrangeiros aplicados em renda fixa local.
Investimentos financeiros em ações superaram ligeiramente US$ 2,2 bilhões __ cifra ainda modesta para um país cujo governo já vê crescimento. E se o crescimento não vier, ou não tiver sustentação, haverá um retumbante retrocesso da política econômica.