terça-feira, 21 de junho de 2011

Chile: estudantes protestam contra privatização da educação.

Cerca de cem mil em Santiago e noutras cidades chilenas deixaram claro o descontentamento com a situação da educação pública no Chile.

Por Christian Palma, Página/12
Artigo | 17 Junho, 2011 - 19:25
Participam todos os sectores da educação

A imagem mais imponente que se repetirá nesta sexta-feira nas capas de todos os jornais chilenos serão as 70 mil pessoas, segundo cifras oficiais (100 mil, segundo os manifestantes), que saíram para protestar na principal avenida de Santiago: a Alameda. A cena repetiu-se em Valparaíso, Concepción, Temuco, Valdivia, Arica, San Antonio, Chillán e Antofagasta, as mais importantes cidades chilenas e onde a cidadania se encarregou – mais uma vez – de recordar ao governo direitista de Sebastian Piñera que há descontentamento, frustração e raiva; que o governo de excelência que prometeram não existe.

A convocatória da Confederação de Estudantes do Chile (Confech), que agrupa todas as universidades tradicionais do país, juntamente com o Colégio de Professores, superou todas as expectativas, que giravam em torno de 20 mil pessoas. Mas pouco a pouco, por volta das 11 horas, começou a chegar muita gente à Praça Itália, lugar que separa a Santiago mais rica da cidade da classe média e centro nevrálgico de manifestações na capital. Em seguida, a massa humana caminhou tranquilamente até a Praça dos Heróis, muito próximo do Palácio de La Moneda. Ali se realizou um comício central, os discursos foram pronunciados quase nas barbas no ministro da Educação, Joaquín Lavín, e do próprio Piñera.

A manifestação de ontem une-se a outras marchas convocadas pelos ambientalistas e onde a cidadania em geral participou na rejeição ao projecto que pretende construir hidro-elétricas na Patagónia, e ao menos massivo, mas também muito significativo, protesto dos estudantes do secundário realizado na semana passada e que reuniu cerca de 7 mil “pinguins” (alcunha desses estudantes).

O “tac tac” dos passos soava em uníssono, enquanto a maré humana avançava sob o olhar atento dos carabineiros que esperavam o primeiro sinal de desordem para reprimir. A longa fila estava colorida de diversos cartazes, faixas, lenços e batucadas, deixando claro, ruidosamente, o descontentamento com a educação pública e exigindo mudanças como o fim do lucro nas escolas, maior igualdade e gratuitidade no ensino.

Um dos rostos visíveis era de Jaime Gajardo, presidente do Colégio de Professores, secundado por Camila Vallejos, presidenta da Federação de Estudantes da Universidade do Chile (FECH) e por um grande número de estudantes secundaristas que, desde a semana passada, se mantêm mobilizados, ocupando quase 240 estabelecimentos escolares e negando-se a suspender as ocupações para sentar-se e conversar como propôs o governo. “Exigimos o mesmo, educação pública para o Chile, pelo fim do lucro na educação, que o Estado recupere o seu papel, que se privilegie o público sobre o privado, mais democracia nas escolas e universidades e que se avance rumo a uma educação de qualidade e não elitista como é agora”, detalhou Gajardo.

Neste sentido, fez uma comparação com a grande rebelião contra o sistema educacional protagonizada em 2006 pelos estudantes do secundário, facto conhecido como “pingüinazo” e que custou a cabeça de um ministro, pôs em xeque a administração de Bachelet e conseguiu colocar na agenda política do país o tema educacional.

“A diferença é que, agora, participam todos os sectores da educação”, disse ainda Gajardo. “Aqui se expressa o movimento social, uma expressão que é transversal, legítima, de mais de 100 mil manifestantes”, acrescentou Camila Vallejos. “Alguns disseram que o povo não quer manifestações, mas hoje são mais de 100 mil pessoas dizendo que querem se manifestar, sim, que querem participar para recuperar a educação pública e para que o Estado assuma seu papel de garantir o direito à educação”, agregou.

A dirigente universitária disse ainda que “hoje não nos serve dialogar porque as coisas são claras. Nós exigimos que se respeite a lei, que diz que não se pode lucrar com a educação e isso não está sendo respeitado e não tem havido vontade política para que seja respeitada”.

No comício central estiveram presentes representantes da oposição e dos ecologistas. “É como se todo o Chile estivesse na marcha. Há gente de todo tipo que está reclamando, isso parece-me maravilhoso”, sustentou María José, uma jornalista recém egressa de uma universidade privada e que está desempregada. José Luis, motorista de caminhão, de passagem por Santiago, afirmou: “tenho quatro filhos e só posso pagar universidade para um, o resto deverá começar a trabalhar assim que puder. Por isso venho reclamar e apoiar esses jovens”. Mas como tem sido a tónica das últimas manifestações, grupos isolados de manifestantes confrontaram-se com os carabineiros, que os reprimiu com cassetetes, jactos de água e bombas de gás lacrimogéneo, em plena Alameda, próximo ao Ministério da Educação.

As desordens aproximaram-se do Palácio de La Monde onde alguns “encapuçados” lançaram pedras, paus e bombas molotov contra o pessoal das Forças Especiais.

Agora os estudantes avaliam a marcha e continuam a analisar os caminhos a seguir, uma jornada que está longe de ser concluída, enquanto as portas do Ministério da Educação não se abram sem condições.

Tradução: Katarina Peixoto, para a Carta Maior

Estudantes fogem de jato d'água lançado por policiais durante enfrentamentos nas ruas de Santiago

A polícia chilena deteve 45 pessoas em uma manifestação que reuniu cerca de 15 mil estudantes nesta quinta-feira no centro de Santiago para exigir uma maior contribuição do Estado ao ensino superior, informaram as autoridades.

A manifestação, convocada pela Confederação de Estudantes do Chile, avançou pela Alameda central para exigir mudanças profundas na educação universitária do país, nas mãos, em sua maioria, de entidades privadas. "A multidão presente na marcha revela que há um descontentamento geral em relação ao modelo em nosso país que afeta o sistema educacional", afirmou a líder estudantil Camila Vallejo.

À manifestação se uniram o Colégio de Professores, reitores de universidades públicas e funcionários destas entidades, além de empregados fiscais e líderes da Central Única de Trabalhadores (CUT). O protesto ocorreu de forma pacífica em grande parte de seu percurso, mas ao chegar nos arredores do palácio presidencial de La Moneda começaram os confrontos entre estudantes e policiais.

Policiais repeliram o protesto com bombas de gás lacrimogêneo e jatos de água, em distúrbios que bloquearam por alguns instantes o trânsito na avenida Alameda e deixaram 45 detidos, segundo a polícia.