Che, o revolucionário argentino, de cidadania cubana e cidadão do mundo antes de pular para as terras africanas fez escala aqui pelo Brasil, para não ser perseguido pelos aeroportos preferiu ir de carro até o litoral, por onde um pequeno barquinho o esperava para seguir viagem.
Os contatos brasileiros de Che passavam por militantes que atuavam na região do Vale do Paraíba que o convenceram o revolucionário a atravessar pela região sentido litoral norte, pois pelo interior seria menos descoberto.
Ao passar pela região ficou admirado (e indignado) com tamanha concentração de terras por aquelas bandas, os latifúndios a quilômetros de distância e também a simplicidade daquele povo caipira, alma do povo paulista.
Durante a viagem confessou que já havia visto um filme do grande diretor e ator, Mazzaropi, em o "Corinthiano" time do qual ao ver tamanha dedicação popular, simpatizou-se.
Numa das paradas estava à pequena cidade de São Luís do Paraitinga, que famosa pela vida pacata não traria problemas para a estadia de Che.
Como o carro teria que passar por uns reparos a viagem atrasaria em duas noites não restando aos dois “compas” a apresentar a cidade para o “gringo” – que era como era chamado o revolucionário cubano, devido o seu sotaque – onde pararam num bar no centro.
Bar que segundo contam os próprios bêbados locais era protegido pela divindade – deveria ser por causa da localização, ao lado da igreja matriz – então conversa vai conversa vem eis que é interrompida por um dos presentes que desanda a contar as histórias (ou estórias) que são muito comuns na pequena cidade.
Che impressiona-se com a história do Saci. Imaginou o “gringo cubano” como seria dura a luta do rapaz negrinho e de uma perna só que tinha na sua causa a defesa da natureza. Che chegou a lembrar-se do que havia lido sobre os estudos de Mariategui – revoluicionário peruano – que indicava que a revolução latino-americana deveria ser também indígena, recordando das lições que teve ao andar pelo continente e ouvir as histórias do deus sol, da mãe terra...
Ao final da noite todos se confraternizaram após umas e outras, Che diz aos dois “compas” que iria aproveitar aquela noite tão refrescante de outono e que depois iria recolher-se na pousada.
Caminhante acostumado com o silêncio da noite, a beira do rio percebe que a caixa de fósforo que trazia consigo havia sumido e um breve estalo interrompe o calar da noite: - Zappp!
Che vira-se com a habilidade de alguém com preparo militar e sem perceber derruba alguém que não pode ver pela escuridão noturna, pergunta quem era e o que queria...era o SACI!
Mui respeitosamente oferece-lhe um charuto. O impressionante foi a cara do Saci que não entendeu o gesto, mas já sabia que o “gringo” respeitava as florestas, sendo até salvo por ela durante a luta em Cuba.
Fumaram charutos, prosearam, fizeram promessas de visitas um ao outro. Já dava a hora de ambos – mitos – irem tomar seu rumo, abraçaram-se e seguiram cada um no seu caminho e na sua luta.
No dia seguinte, os compas que acompanhavam Che perguntaram – preocupados – por onde andará até tarde. E o revolucionário cubano com sua sinceridade que lhe é peculiar lhes disse quem havia encontrado.
Todos (as) ao seu redor riram e disseram que Che entrava no clima da cidade. Ao sair da pousada o gerente diz que alguém havia deixado para Che um presente, opa, um cachimbo! Todos se entreolharam...
Seguindo o rumo para África ficaram para Che Guevara duas impressões pela breve passagem: uma de que a luta dos revolucionários (as) brasileiros (as) passavam pela defesa da sua riqueza, a terra e outra o cachimbo que carregou consigo nas muitas pitadas afora.
Por Wagner Hosokawa
...depois de um final de semana em São Luís do Paraitinga, no arraiá local vivendo a verdadeira cultura paulista, o caipira...não dá pra não escrever uma estória (ou história), também...