quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Veja a integra da entrevista de Wagner Hosokawa à Folha Metropolitana, fala sobre o trabalho na coordenadoria da juventude

Wagner Hosokawa fala sobre o trabalho na coordenadoria da Juventude de Guarulhos

Laís Domingues

Depois de um ano e meio à frente da Secretaria de Assistência Social e Cidadania, Wagner Hosokawa, de 31 anos, assumiu em 25 de junho de 2010 a recém criada Coordenadoria da Juventude. Formado em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica (PUC), de São Paulo, militante de movimentos sociais como o Coletivo de Juventude da Via Campesina, Hosokawa já atuou no movimento secunda-rista, no Fórum e no Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente de Guarulhos, do Conselho Municipal de Educação e do Conselho Regional de Serviço Social.

Há apenas um ano no cargo, o coordenador da Juventude já realizou duas conferências, bicicletada, duas caminhadas temáticas, e segue para a segunda edi-ção da Feira do Estudante, que neste ano, além de reunir oportunidades educacionais para os jovens, traz resposta para uma demanda antiga dos estudantes da cidade: a ampliação da cota do meio passe escolar.

FM – Qual a função da coordenadoria?

Hosokawa – A coordenadoria nasceu com a função de integrar todas as ações políticas da Prefeitura, que tem cerca de 20 programas, projetos e ações voltados para os jovens e espa-lhadas nas diversas secretarias. Nosso papel é integrar e potencializar essas ações, além de pensar nas políticas públicas para a juventude e promover sua maior participação política na cidade.

FM – Como está o desenvolvimento de propostas para a juventude pela coordenadoria?

Hosokawa – Não temos poder executivo, mas temos algumas ações que são da própria coordenadoria, sempre apoiadas por outras secreta-rias. A Campanha ‘Juventude Negra quer Viver’, por exemplo, atende uma demanda das conferências de igualdade racial, que apontam que a juventude, principalmente negra, tem quase 70% de possibilidade de ser vítima de violência policial. Outra ação é a bicicletada, que, em parceria com a Secretaria de Transportes e Trânsito, reuniu 500 ciclistas no Bosque Maia. Outro programa importante, que em sua versão 2011 tem como parceiros as secretarias de Saúde e de Meio Ambiente, é o Grafite é Cidadania. Vamos fazer o próximo no Jardim Flor da Montanha em outubro. A grande ideia é promover integração e mostrar que o grafite é uma forma de expressão e de arte da juventude.

FM – Como vê a situação hoje da qualidade do ensino base?

Hosokawa – O grande pro-blema hoje está no ensino médio, a evasão é de quase 30%, e o que acho mais grave é o fato do analfabetismo funcional ser um dado real na sociedade. Estamos participando da Comissão de Organização da Conferência Municipal de Educação. Queremos incentivar a juventude a participar do processo de construção do Plano Municipal de Educação. O jovem é quem tem que dizer como a Educação pode melhorar. O debate é sobre o modelo de ensino, que não atende mais a demanda de uma geração que mudou. O professor que ficar só na lousa e no giz vai perder esse aluno. A adolescência é uma fase da vida em que se não forem proporcionadas ou-tras oportunidades, além da sala de aula, a educação não avança. É preciso investir em atividades extracurriculares. Só prédio, carteira e lousa não respondem mais a necessidade do jovem. Ele quer criar, produzir. A escola precisa ser repensada.

FM – Como está a situação do jovem em relação à oportunidade de emprego e de qualificação profissional?

Hosokawa – Temos em Guarulhos uma tendência que é nacional, a juventude em sua grande maioria tem acessado as oportunidades de emprego por meio da área de serviços, especialmente telemarketing e comércio. Para o jovem não é um emprego de carreira, ele quer essa oportunidade como transição da vida jovem para a adulta, como forma de adquirir independência e autonomia financeira. Nessa última década, o jovem está procurando emprego que lhe possibilite acesso à universidade para aí sim buscar a carreira profissional de fato.

FM – Então o jovem está se esforçando mais em busca do ensino superior?

Hosokawa – O jovem está buscando o ensino superior agora como perspectiva de vida. Em 2000, não estava no horizonte do jovem fazer universidade. De 2002 para cá virou febre, e isso é bom, mostra que a juventude está colocando na sua pauta ou-tras perspectivas. E aquele que acha que não consegue chegar à universidade também tenta buscar cursos de qualificação ou especialização técnica. A Prefeitura todo ano abre vagas para o Programa Oportunidade ao Jovem, e sempre há um número excedente de interessados.

FM – Falando em ensino superior, como será a Feira do Estudante desse ano?

Hosokawa – A Feira do Estudante acontece nos dias 8 e 9 de setembro no Adamastor. No seu segundo ano esperamos receber cerca de 1.500 jovens. Desta vez buscamos integrar instituições educacionais públicas e privadas e a Secretaria de Educação. Além disso, neste ano estamos somando com a Biblioteca Municipal, que também promove ações para jovens que queiram conhe-cer o ensino superior. Durante a feira vamos anunciar, junto com a Secretaria de Transportes e Trânsito, uma ampliação do meio passe escolar. Atualmente só é garantido ao jovem a possibilidade de comprar passes para que possa ir de casa para a escola. Queremos ampliar o numero de cotas para que o jovem possa utilizar o meio passe também de fim de semana.

FM – Essa era uma antiga reivindicação da juventude. Que outras políticas públicas ainda faltam para o jovem na cidade? O que a juventude tem reivindicado nas conferências?

Hosokawa – Nos Orçamentos Participativos e nas conferências, a juventude reivindica mais espaços de cultura, lazer e esporte. Os três Centros de Educação Unificado (CEUs) da cidade são equipados com telecentros que apresentam um número impressionante de jovens. Nessa questão tecnologia, boa parte dos jovens não tem computador, mas já está nas redes sociais. A juventude tem se apropriado dessa ferramenta não só para se comunicar, mandar e-mail, bater papo, mas para trocar informações.

FM – Qual a posição da coordenadoria frente à situação de prostituição e drogadição de jovens na cidade?

Hosokawa – Como nascemos agora, nem nosso orçamento permite que façamos algum tipo de convênio com entidades que façam atendimento a esses jovens. Entendemos que a juventude, que já está com seu direito violado, tem atendimento oferecido por outras secretarias. A nossa frente é outra: prevenção. Procuramos promover ações que façam o jovem participar socialmente de forma a nem mesmo se aproximar de outros caminhos que surgem.

FM – E como está a participação política do jovem?

Hosokawa – Quando questionado de que instituição mais participa, o jovem responde que é a religião. A participação em organizações estudantis e partidárias ainda é muito baixa. O desenvolvimento do Brasil precisa ser aliado à participação dessa juventude. Os casos de violência são expressões de um desenvolvi-mento só econômico, sem valores coletivos, de compreensão de País. Não se pode ter medo de dar voz para a juventude. Se não preparamos o jovem para participar politicamente, quando for adulto vai se ausentar da reunião na escola dos filhos, não vai tratar dos problemas de bairro e não vai entender seus direitos trabalhistas.